Nada de canja de galinha
Pacientes são tratados com pompas e regalias em alguns hospitais de luxo, artigo do meu amigo Marcelo Besson.
Mas não é de hoje que o conceito de hotelaria vem sendo incorporado na área hospitalar. Há alguns anos, nos "hospitais cinco estrelas" o paciente é tratado como rei. No Sírio-Libanês, por exemplo, a suíte de luxo tem sala, varanda e é equipada com cama elétrica, geladeira, televisão, banheiro privativo, som ambiente, três aparelhos de telefone, ar condicionado e dois cofres. O preço que se paga por tantas regalias? Em torno de R$ 900,00 por dia.
Logo pela manhã, as copeiras passam de quarto em quarto apresentando o cardápio do dia, que traz sempre cinco opções. Se o paciente não gostar de nenhuma, pode fazer sua própria sugestão. As histórias são curiosas: "Certa vez, uma mãe pediu para que fizéssemos um bolo de chocolate para o filho. Mas o menino não podia comer chocolate. A equipe se empenhou em pesquisar ingredientes e conseguiu fazer um bolo com cor, cheiro e aparência de chocolate, sem acrescentar um pedacinho do dito cujo; o menino comeu e se fartou", conta entusiasmada Marcia Caselato. Em hospitais renomados, as equipes garantem que entre vips e anônimos, ambos recebem a mesma atenção.
Na ponta do lápis:
Hospital Oswaldo Cruz: conta com 126 funcionários na parte de gastronomia e produz 87 mil refeições por mês. Seis nutricionistas e cinco técnicas em gastronomia garantem a boa comida e a segurança alimentar dos pacientes.
Hospital Albert Einstein: prepara 2.500 refeições por dia para quinhentos pacientes. Ao todo, quatro mil funcionários também usufruem da cozinha do hospital.
Hospital Edmundo Vasconcelos: com 220 leitos, o hospital serve de cinco a seis refeições por dia para cada um dos pacientes, totalizando cerca de 1.500 pratos de comida. Dez nutricionistas e 112 funcionários põem a mão na massa.
Hospital Sírio-Libanês: Dezessete nutricionistas clínicas visitam os 277 leitos do hospital. Junto com elas, outros 164 funcionários, entre cozinheiros e copeiras, preparam 28 mil refeições por mês só para os pacientes.
Do cuidado na escolha dos alimentos à apresentação dos pratos, as refeições dos pacientes do hospital Edmundo Vasconcelos também são cuidadosamente planejadas por um grupo de dez nutricionistas. A supervisora de produção Eloísa Pacheco de Almeida é quem comanda esse time. A louça decorada em porcelana alemã ajuda a tornar o momento da refeição um momento especial, de abstração dos problemas. Para a pediatria, a hora do lanche é a hora mais feliz. Copos, canudos e guardanapos temáticos e uma bandeja com o fundo carimbado com um desenho para ser colorido fazem a festa dos pequenos.
Mas o grande desafio, segundo Eloísa, é desenvolver cardápios saborosos para dietas restritivas. "Entre portadores de doenças do coração, por exemplo, faz sucesso o salmão ao molho de maracujá e lascas de castanhas, acompanhado de brócolis e tomate recheado com ricota", conta a nutricionista. A ordem é respeitar as condições religiosas, regionais ou étnicas de cada paciente. Até um prato feito com rã, Eloísa teve que providenciar para satisfazer o desejo de um garoto vindo da região norte do Brasil. "Conseguimos comprar a carne de rã e a mãe do menino ajudou a preparar a receita do jeitinho que o filho gostava".
Termômetro da saúde
"Está comendo direitinho?" Muita gente já ouviu essa pergunta da avó ou da mãe quando estava se recuperando de alguma enfermidade, mesmo que fosse um pequeno resfriado. "A alimentação é, na verdade, o termômetro mais simples da saúde. Em um hospital, a refeição é um dos momentos (ou talvez o único) em que a pessoa tem a possibilidade de sentir prazer", explica Nancy Miyahira, gerente de nutrição e dietética do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC). Seus 23 anos de experiência nessa "ala" do hospital lhe garantem propriedade suficiente para coordenar uma equipe de 126 funcionários que trabalha pesado para preparar 2.900 refeições por dia.
Curiosa e dedicada, Nancy conseguiu criar ao longo desse tempo, um cadastro com mais de três mil receitas, testadas e aprovadas por nutricionistas e pacientes. Nessa lista, ela já teve que incluir os mais diferentes pedidos como, por exemplo, um combinado de sushi e sashimi que chegou caprichado no quarto de um paciente aficionado de comida oriental. "O conceito de gastronomia hospitalar ainda não está completamente definido no Brasil. Nosso intuito é mostrar que mais importante do que servir receitas sofisticadas é expressar no prato de comida, o carinho e a preocupação do hospital com os pacientes. Isso pode ser feito com ingredientes simples e uma boa apresentação", afirma Nancy.
Quanto custa tudo isso?
Essa é a pergunta que o leitor provavelmente fará depois de ter lido todas essas informações. De fato, quem usufrui desses centros de excelência em medicina precisa desembolsar muito dinheiro. Na maioria dos hospitais, mais de 50% dos atendimentos partem de convênios com planos de saúde superiores (aqueles plus, master, mega....); o restante vem de atendimentos particulares; de gente que consegue pagar de R$ 500,00 a R$ 1.400,00 por uma diária num quarto de luxo.
Os serviços diferenciados oferecidos pela cozinha desses hospitais não têm custo adicional. Ou seja, na hora de pagar a conta o paciente não paga a mais por ter comido salmão ao invés de frango. Mesmo assim, você não vai querer ficar doente, vai?
Fê Dantas.
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