Me deu preguiça do movimento de startups na política quando comecei a presenciar algo que não me representava, que não era autêntico. Ouvia discursos que me chocavam. Ainda mais depois das manifestações de 2013.
Foi só me posicionar sobre o que acontecia na política brasileira, do ponto de vista social, que recebi ataques que chegaram até a mesa de reunião, onde fui chamado de "Petista", "esquerda caviar", "maconheiro". Isso sem ao menos ser filiado de algum partido político.
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Beyonce, nos EUA, é chamada de traficante pela Direita ultra conservadora |
A forma como as pessoas rotulam as outras só mostra o quanto nos limitamos perante a uma ideia que não concordemos. Se distanciar por conta de uma ideia ruim, entre outras 500 boas que a outra pessoa possa ter, é muita prepotência.
Logo achei que me atacavam pelo fato de ser voluntário e ativista em N projetos no Brasil. Colaborava sem interesse financeiro, dava palestras e acaba viajando o Brasil por conta dos projetos como consultor. O momento de crise política foi propício para que um discurso de ódio ganhasse força, menosprezando o politicamente correto e quebrando os limites do respeito ao próximo.
Em janeiro de 2015,
saí de uma depressão profunda, estava no meu ápice, pelo volume de trabalho e precisava de um momento de reflexão pessoal. Abri mão da minha carreira, das oportunidades, e tudo que tinha em São Paulo. Resumi minha vida em duas malas, mudei pros EUA e decidi ficar. Tirei um ano "de folga" de trabalhar na minha área profissional pra sobreviver no subemprego. Assim pude me dedicar no inglês.
Finalmente, depois de meses de processo e muita ansiedade na espera, em janeiro de 2017, voltei a trabalhar com o que amo: conteúdo, para uma das maiores empresas de tecnologia do mundo no coração do Vale do Silício: o Facebook.
Uma das coisas legais daqui do Vale é que, mesmo você sendo funcionário, existe um suporte gigantesco para a diversidade, para que não se perca a criatividade e a inovação, em todos os sentidos. São projetos acontecendo o tempo todo e a postura empreendedora conta muito na hora de fazer as coisas acontecerem, estando dentro ou fora de uma empresa.
Você pode sair do Brasil mas o Brasil não sai de você. Um fato que me consome a cada notícia que leio, todos os dias. E é mais desafiador ainda quando se trabalha acompanhando várias esferas da mídia, enquanto ficamos daqui, atenciosos, pra compreender o que está acontecendo pelo mundo.
E esse "ano sabático" de 2016, foi essencial. Me ajudou a ver o mundo de outra forma, ao conversar com pessoas de outros países, todos os dias. Descobrir que muito do que se venda na mídia tradicional ao redor do mundo, incluindo escândalos políticos, de corrupção, de guerra e conflitos, não se passam de uma grande mentira para movimentar mercados.
Nasci na periferia de São Paulo, SP, filho de pais separados e ambos empreendedores. Aprendi com os dois que para se viver era preciso trabalhar. E trabalhar duro. Mas nunca tive ambição de sair do bairro e nem de me formar em alguma universidade. O mundo era limitado pra quem vivia uma realidade de família humilde.
Meus pais, mãe mineira, cabeleireira e pai paulista-bahiano, motorista de caminhão, me ensinaram muita coisa sobre trabalho. Me deram exemplo, enquando eu vivia entre as duas famílias.
Filho único e com duas famílias, revezava os meus finais de semana entre um salão de beleza lotado de mulheres numa tarde de sábado e outro pelas estradas, viajando com o meu pai. Nunca esqueço de uma madragada em que ele descarregava um caminhão inteiro de areia sozinho porque não tinha ninguém para receber a carga na baixada santista, e ele precisava voltar pra cidade.
Aprendi com eles que o sucesso está no processo, e não no resultado final. Casa, carro, roupas de marca, viagens. Tudo isso é efêmero. O lucro financeiro dá suporte, mas a FIB (Felicidade Interna Bruta), está na alegria do dia a dia. Na construção, no correr atrás dos sonhos. Em pequenas coisas como uma viajem pra praia mais próxima, uma cerveja, uma macarronada de domingo. Estar junto é ter sucesso. E disso eu nunca pude reclamar.
Comecei aos 14, fiz de tudo pra sempre ter o meu dinheiro. E quando iniciei a minha vida profissional em marketing, visitei casas e mansões de alto luxo. Descobri que a alegria nem sempre reina onde se tem muito dinheiro e coisas que se remetem ao sucesso. Neste cenário, percebi que não era representado quando o discurso nos palcos dos eventos de startups e ecommecre seguiam um tom arrogante sobre o sucesso. Os pré-requisitos eram ditados pelas panelas do ecossistema. Se você não fizesse parte desta panela, por não concordar com alguém ou alguma ideia do status-quo, você estaria fora.
E assim aconteceu quando o debate político chegou no empreendedorismo e no e-commerce. Era claro que, na maioria das vezes, ganhar prêmios em vendas, sair em capa de revista, dar entrevista pra TV, conseguir mais likes, seguidores, ser o nome do ano... Tudo isso é legal pro próprio ego da pessoa. Talvez até pro capital financeiro da empresa. Mas e pro ecossistema, como um todo?
Não fazia sentido estar ali jogando confete pra quem é orientado pelo ego, sem propósito e impacto social.
Todo esse
oba oba dos eventos aconteceu - e acontece - em torno de um círculo muito pequeno e limitado de pessoas no Brasil. Quem está dentro sabe muito bem do que estou falando. Que, na maioria daz vezes, não incluem e representam o que chamados de empreendedores pelo resto do País.
Ser atacado, rotulado ou ouvir piadas sobre ser um empreendedor de esquerda já foi tenso (por mais que seja centro-esquerda liberal). Mas começou a me dar um bode maior quando um grupo tomou as dores, em nome dos empreendedores, dizendo que o empreendedorismo em si
é um dos motes de uma ideologia política de direita.
Ora bolas. Precisamos desenhar, então, pra poder voltar no passado e entender o que é direita x esquerda.
Se paramos pra estudar a história, podemos descobrir facilmente quem estava na direita nos tempos medievais. E se compararmos com hoje, sabemos quem está por trás dessa figuro: os patrões da sociedade - que não são os pequenos e médios empresários que as pessoas das startups e e-commerce acham que são.
Acreditar que políticos de direita lutam pelos pequenos e médios empresários (plus startups) é uma grande armadilha. O sistema de hoje ~e de ontem~ sempre defendeu os gigantes da economia, os grandes produtores, os BILIONÁRIOS. Jamais, os pequenos/médios empreendedores.
Meu estômago se contorce ainda mais quando vejo alguém, que se diz empresário, apoiando pessoas que são claramente financiadas por corporações bilionárias, entre elas, estrangeiras. Marionetes que se dizem empreendedores de sucesso, dando um show na frente as câmeras, que não passa de um teatro pra iludir a classe empreendedora.
Não estou aqui para julgar e nem dar nome aos bois. Mas, no mínimo, chamar o leitor para uma reflexão: quem investe no seu político? Quais são as parcerias que ele realmente possui enquanto diz que te representa? Seja ele de direita ou de esquerda, a quem ele está beneficiando?
É uma hipocrisia sem tamanho, e histórica, do ecossistema empreendedor brasileiro, adotar um discurso machista, concodar com ideias homofóbicas, ser contrário ao trabalhador (só porque é empresário), desprezar movimentos sociais e das minorias. Falam tanto sobre a inovação e criatividade em seus modelos de negócio, mas esquecem que para que isso exista no ecossitema é preciso apoiar a diversidade.
Ser empresário não te faz ser, obrigatoriamente, uma pessoa de direita. E mesmo que você já tenha chegado no seu primeiro milhão, ainda não será representado por aqueles que prometem a proteção aos "empresários". É preciso abrir os olhos e tentar descobrir quem financia a página no Facebook que você apóia, as personalidades que você segue e confia, as ideias que você acredita, os jornais que você assiste e as revistas que você lê.
Não questionar a si mesmo e se agarrar a uma única ideia só nos faz mais arrogantes e prepotentes.
Neste exato momento vivemos uma guerra midiática, onde é quase que uma obrigação de todos conferir os fatos, analisar as fontes. Quem não se informar, será informado. E facilmente, se tornará um informante, para servir os grandes senhores que lideram o mundo hoje.
Até porque, quando todo mundo acredita em uma grande mentira, ela se torna verdade. E na real, a verdade é relativa. Daqui alguns anos, o choque será o mesmo que tiveram aqueles ao descobrirem que a Terra, na verdade, era redonda e não plana.
O que me resta hoje, frente a essa era meléfica de líderes mundiais indo pra direita, é a esperança. De que os gigantes de tecnologia comecem a mostrar pra sociedade quem está mentindo, quem faz o jogo sujo por espalhar notícias falsas, sensacionalistas e com discurso de ódio - entre elas, no ecossistema empreendedor.
Assim, quem sabe no futuro (que seja bem próximo) possamos descobrir quem controla quem e se, de fato, essas figuras estão em prol dos empresários no País. Só assim para acabar com essa servidão voluntária aos patrões do mundo.