(Dane Deaner)
Diferente de um festival de música padrão, o Burning Man é o maior encontro de contracultura do mundo. O que significa que lá, você não encontrará obras de arte tradicionais, que já tenha visto por aí. Além de muita música, carro-arte e festas, a cidade oferece atividades voltadas para todos os grupos e idades.
São aulas, workshops e atividades que proporcionam a interação entre os participantes no intuito de criarem algo novo para solucionar problemas que vão além do deserto de Black Rock.
Um dos exemplos, é o Shiftpod. Uma barraca que foi criada por um acampamento de burners e que, hoje, serve de abrigo para grupos de refugiados de guerras.
E além das criações artísticas e projetos que saem destes acampamentos, o que realmente levam em conta, é a atitude das pessoas no deserto.
O Burning Man é um festival guiado por 10 princípios que, ao serem seguidos, fazem tudo ter mais sentido. Tranformando o encontro um lugar mágico e cheio de "coincidências":
1 – Auto Expressão Radical: Liberdade para ser você mesmo.
2 – Auto Confiança | Auto Responsabilidade – você é responsável por você mesmo, mentalmente e fisicamente.
3 – De-comoditização– esqueça do dinheiro – não tem nada para comprar
4 – Não Deixe Rastros: De pó ao pó, deixe apenas pegadas
5 – Participação: Se envolva. Burning Man é o que fazemos.
6 – Inclusão Radical: Todos são bem vindos.
7 – Presentear: Oferecemos o nosso tempo e esforço livremente.
8 – Co-operação: Juntos somos mais fortes
9 – Comunidade: Uma família de indivíduos, nós cuidamos uns dos outros.
10 – Imediatismo: Faça o agora valer / esteja aqui agora.
Com base nestes princípios, as pessoas seguem para o deserto com toda a preparação para acampar e viver em comunidade por 7 dias ou mais.
O período anterior ao evento oficial, serve para que pessoas engajadas possam chegar mais cedo e começar a construir os acampamentos, que geralmente oferecem: comida, bebida, serviços como oficina de bicicletas, lavagem de cabelo, aulas de yoga, bitcoin, empreendedorismo social e até uma Sillicon Village.
Raising the Man - Shalaco |
É na hora da construção, que se encontram os talentos. Líderes, gestores de projetos, comunicadores, criativos e os mais diversos atributos que os investidores procuram em pessoas que vivem em um ambiente hostil, de altas temperaturas durante o dia, tempestade que te deixa sujo e sem acesso a internet.
As conversas no Burning Man vão muito além do "o que você faz da vida?". É natural começar uma conversa dentro de uma instalação artística, debatendo o conceito da obra, sobre o quê o artista pensou, nas emoções que ela passa, sobre o ambiente ou sobre as constelações em uma noite de céu estrelado. E por mais que alguém comece puxando o gatilho do "quem é você lá fora", eles serão bem superficiais na resposta.
"Sou designer", "Sou carpinteiro", "Tenho um negócio na cidade". Descrições vagas não dirão que são design thinkers, engenheiros e empreendedores de empresas multimilionárias. Até porque, em Block Rock City, o dinheiro e quem você é "lá fora" não conta. Mas sim, a sua atitude.
E é à partir destas interações que eles encontram os talentos, no quão engajados são aqueles que se colocam à disposição para colaborar, de forma livre e espontânea, seja no planejamento (meses antes do evento), na construção, no durante e/ou depois que o evento acaba.
Amazon, Google, Apple, Facebook, Tesla, SpaceX e diversas companhias contaram - e ainda contam - com a presença de seus CEOs e funcionários no Burning Man. Mas além deles, também estão presentes, em grande parte, donos de outras empresas não só dos Estados Unidos, mas do mundo inteiro.
Eu poderia colocar diversos exemplos aqui, citando nomes, de pessoas que estam criando coisas bacanas neste momento. Mas pelo pedido de anonimato deles (inclusive, de vários que acamparam comigo este ano) não irei dar nome aos bois.
Se você já teve algum preconceito sobre o Burning Man e quer saber mais sobre o que é esse negócio, escrevi outro post essa semana (bem longo) sobre a experiência social que ele proporciona - confira aqui.
Se você é um burner e acha que o Vale do Silício está destruindo o Burning Man, é melhor repensar sobre isso e acampar com essas pessoas. Somente assim para ver, com os próprios olhos, que eles constroem e participam muito mais do que muito artista e modelo que vai para Black Rock City pra postar foto no instagram.
São pessoas que não postam fotos, dizendo que estiveram lá.
Por fim, o que vale de aprendizado, é que o engajamento anônimo e voluntário em grupos onde não existem rótulos, como o Burning Man, possibilita um experimento mais valioso do que um longo processo de contratação de 5 meses, ou uma rodada de investimento de startups para descobrir talentos de verdade - sejam eles funcionários, parceiros ou sócios de negócios inovadores.
*Links que consultei para escrever este post, sobre a "invasão" do Vale do Silício no Burning Man:
- A Line Is Drawn in the Desert - https://www.nytimes.com/2014/08/21/fashion/at-burning-man-the-tech-elite-one-up-one-another.html
- Here's why Google went to Burning Man to find its next CEO - http://www.businessinsider.com/google-larry-page-sergey-brin-eric-schmidt-burning-man-stealing-fire-flow-state-2017-4
- From Silicon Valley to Black Rock City: The link between Burning Man and the West Coast aristocracy - http://www.rawstory.com/2015/09/from-silicon-valley-to-black-rock-city-the-link-between-burning-man-and-the-west-coast-aristocracy/
- From Tech Insider: Silicon Valley loves Burning Man and these tech executives are no exception - https://www.computermagazine.com/silicon-valley-loves-burning-man-and-these-tech-executives-are-no-exception/
- Sillicon Village Burners - http://siliconvillageburners.org/
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